GNU Mascote

Emanuel Victor 
Especial para Include[SI]

Richard Stallman

Richard Stallman

Muita gente que trabalha com computação não liga muito. Alguns até fazem esdrúxulas ligações de software livre/open source com software de qualidade duvidosa, mantido por voluntários e sem suporte. A verdade é que o FOSS (Free/Open Source Software) não iniciou como uma ideia para desenvolver software de baixo custo com qualidade e sim como uma ideia de acadêmicos para compartilhar conhecimento. Depois, a iniciativa foi alavancada por Richard Stallman como uma ideia de liberdade, onde o usuário teria meios de auditar e modificar o código para sua próprias necessidades.

Richard Stallman, as origens do Software Livre e do Projeto GNU

Nos anos 70 e 80, a geração de hackers como Richard Matthew Stallman estava começando a entrar em decadência, as produtoras de software pararam de distribuir o código-fonte dos aplicativos para impedir que eles fossem usados nos computadores de competidores e começaram a fazer licenças para limitar ou proibir a cópia e a redistribuição. Essa mudança se intensificou com o Copyright Act de 1976, que pretendia dar mais segurança para essas empresas de software proprietário.

Em 1980, Stallman e outros colegas do laboratório de Inteligência Artificial do MIT pediram o código fonte de de uma impressora a laser da Xerox e foram negados. Stallman tentou adaptar o código-fonte da impressora anterior para funcionar na nova, mas alguns recursos não foram possíveis de serem adicionados. Isso deixou Stallman convencido da necessidade das pessoas serem capazes de modificar livremente o software que elas usam.

Em 1983, Stallman cria o GNU Project, projeto esse com o objetivo de criar um sistema Unix totalmente livre. Em 1984, Stallman sai do laboratório de Inteligência Artificial do MIT para se dedicar exclusivamente ao GNU Project.

Projeto GNU e a Free Software Foundation

AdesivosComo dito anteriormente, o projeto GNU foi criado com o objetivo de criar um sistema operacional Unix-like totalmente livre. Stallman descreve suas motivações para tal no “GNU Manifesto” em 1985. Ele funda a Free Software Foundation (FSF), instituição sem fins lucrativos para receber doações que seriam usadas na contratação de desenvolvedores para o GNU, que foi de início implementada com a GNU Emacs General Public License.

Em 1989, a primeira versão do GNU General Public License foi lançada, sendo responsável pela implementação do conceito “Copyleft”, um mecanismo legal para proteger os direitos de modificação e redistribuição de software e até hoje uma das licenças mais importantes e populares no mundo Free Software/Open Source. Ela foi usada, por exemplo, por Linus Torvalds para o licenciamento do kernel Linux.

Debian, Bruce Perens, Eric .S Raymond e o Open Source

Em 1993, foi fundado o projeto Debian por Ian Murdock, funcionário da Pixar que lançou junto o “Debian Manifesto”, onde ele dissertava os objetivos do projeto. O projeto Debian consistia em uma distribuição das ferramentas do projeto GNU com o Linux. Murdock cuidava da base do sistema e do gerenciamento do projeto e Bruce Perens, também funcionário da Pixar, dos pacotes críticos.

 Da esquerda para a direita: Bruce Perens e Eric S. Raymond

Da esquerda para a direita: Bruce Perens e Eric S. Raymond

Em 1996, Bruce Perens tomou a liderança do projeto. Considerado um líder controverso e autoritário, ele iniciou a discussão sobre o contrato social do Debian e suas diretrizes de software livre. Isso ocorreu depois de meses discutindo e modificando o código várias vezes.

Em 1998, um grupo de pessoas se encontraram e discutiram sobre a ideia de promover o software livre em termos pragmáticos, ao invés dos termos morais preferidos por Richard Stallman. Christine Petersen, da organização de nanotecnologia Foresight, que se interessou cedo pelo Software Livre, sugeriu o termo “Open Source”.

No outro dia, Eric S. Raymond (um dos primeiros e principais colaboradores do GNU Emacs), conhecendo o trabalho de Perens no Debian, o recrutou para trabalhar com ele na formação do Open Source. Perens modificou as Diretrizes de Software Livre do Debian, removendo as referencias ao Debian e substituindo por Open Source e foi fundado o OSI (Open Source Initiative), tendo como membros fundadores os próprios Eric. S. Raymond e Bruce Perens. O fato de Bruce Perens ainda ser o líder do projeto Debian não agradou aos partidários do Free Software que, após vários debates e conflitos sobre o Open Source e o Free Software, cortou os fundos que a FSF destinava ao projeto.

Entre o ideal e o possível: como os movimentos se comportam atualmente

A Open Source Initiative, baseada nas definição de 10 pontos criado por Bruce Perens no projeto Debian, se comporta de forma mais diplomática, aceitam várias licenças menos livres e  tentam influenciar a indústria a ficar mais aberta. O crescimento do patrocínio e promoção de tecnologias abertas pela instituição mostra uma tendência: a abertura do código para melhoria e mais qualidade técnica.

A maior crítica é a pragmatização do Software Livre/Open Source, onde o software é aberto por razões puramente práticas, não tendo  responsabilidade de deixar o software aberto e sim apenas pela conveniência. Não pensando eticamente que o software deve ser aberto para maximizar a liberdade — apesar de não achar que a critica é totalmente válida, Raymond defende gradações de dano ao usar software proprietário e Perens defendeu abertamente o uso da GPLv3 alegando que ela trazia liberdades adicionais ao software.

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Emanuel Victor está cursando o 7º Semestre do curso de Sistemas de Informação da FA7. Ele é bolsista do Coordenação dos Laboratórios de Informática (LabInfo) e voluntário do Núcleo de Desenvolvimento de Sistemas – DESI

Já o movimento de Software Livre endureceu nos últimos tempos com o desenvolvimento da GPL versão 3, que ampliou as liberdades e gerou críticas porque ela supostamente restringe o uso do software (Tivoization). Linus Torvalds criticou abertamente a licença GPLv3 alegando que ela vai contra tudo que a GPLv2 defendeu (o Linux é licenciado em GPL v2). A adoção rápida da licença em todos os projetos GNU levou a uma debandada da Apple para o compilador LLVM/Clang e o patrocínio em massa para esse software, que utiliza uma licença considerada mais “liberal”, onde o fabricante não é obrigado a distribuir os códigos modificados, apenas dar os créditos.

Richard Stallman usa seu conhecido nome para fazer seus alertas contra o software fechado, o risco da perda de privacidade, do DRM, fala abertamente contra a vigilância privada e estatal e que o software proprietário é “defeituoso por design” e não respeita o consumidor.

Críticos ao movimento GNU/FSF se dão contra o fundamentalismo do software livre, onde a definição das quatro liberdades é vista como uma bíblia, onde não há discussão e nem formas para se trabalhar de forma menos ideologica, se tornou um movimento estático e antiquado.

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Conclusão

O Software Livre e o Open Source são duas linhas política-filosóficas dentro de um só movimento. Há de se pensar que Richard Stallman é um cara ligado à posições de esquerda e Eric S. Raymond mais ligado à posições de direita – Stallman um idealista socialista-liberal filiado ao Partido Verde dos EUA e Raymond um prático anarcocapitalista filiado ao Partido Libertário dos EUA.

Os movimentos acabam ganhando muito das feições demonstradas em seus símbolos e influenciam muitos programadores pelo mundo, que vestem ou não uma camisa com esses movimentos. A verdade é que esses movimentos vieram para ficar e revolucionaram nosso modo de ver o código, seja pela vantagem prática de melhora do código, mas pricipalmente pela liberdade, pelo compartilhamento de código e pelo respeito à privacidade do consumidor.

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