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Yuri Lenon Nogueira
Especial para Include[SI]

Algum tempo atrás, divulgou-se pela internet, através de reconhecidos sites de notícias internacionais: “Bots de ‘Quake 3 Arena‘ evoluíram para a paz mundial após uma guerra de quatro anos em servidor pirata” [1]. A notícia contava a história de uma pessoa que configurou dezesseis bots – jogadores controlados pelo computador – para jogar uma partida do referido jogo no ano de 2007, os deixou brigando e os esqueceu por quatro anos. Apenas em 2011, o responsável pela execução Cheap Barcelona football shirts do programa lembrou-se do que havia feito e resolveu voltar ao jogo para analisar o que estava acontecendo. Através de seu avatar – personagem virtual controlado pelo jogador –, ele passeou pelo cenário e percebeu que os bots estavam na mais completa paz, apenas observando o ambiente. E isso ocorreu em um jogo cujo objetivo é matar o maior número de adversários (todos os outros jogadores). O que houve? Teria a Inteligência Artificial (IA) evoluído a um ponto ao qual nem mesmo a inteligência humana ainda conseguiu evoluir? Os bots resolveram o problema da paz mundial, tão desejada pela humanidade (pelo menos em suas palavras), mas que nenhuma pessoa até hoje foi capaz de trazer uma solução?Infelizmente, tudo não passou de um boato.

Teria a Inteligência Artificial (IA) evoluído a um ponto ao qual nem mesmo a inteligência humana ainda conseguiu evoluir?
Tal experimento nunca fora realizado e, portanto, os alegados 8 gigabytes de informações contendo os “cérebros” dos bots não existiam. Logo, não havia uma fonte de dados que pudesse ser analisada para extrair a solução para a paz mundial e aplicar na vida real. Entretanto, ficam as perguntas: seria possível realizar tal experimento? Existe Cheap AC Milan football shirts tecnologia para tal? E se fosse feito, os bots realmente chegariam à mesma conclusão da paz mundial? Seria possível aplicá-la na vida real? Sim, existe tecnologia para o desenvolvimento desse experimento e ele pode ser construído. Se a conclusão seria a mesma, dependeria da forma de sua realização, dados os conhecimentos que hoje se tem na área de IA. Entretanto, qualquer que fosse a conclusão tirada pela “sociedade dos bots”, possivelmente de nada adiantaria analisá-la e entendê-la se o objetivo for extrair uma solução que também leve a humanidade à paz mundial. Ela não serviria às sociedades humanas. Infelizmente, não funcionaria – ou sequer seria possível aplicá-la.

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De qualquer forma, há um certo consenso de que uma inteligência de verdade não é algo programável

Na tentativa de entender o que é inteligência, a comunidade científica tem tentado recriar tal fenômeno no computador. Há aqueles que têm trabalhado na criação de programas de computador capazes de demonstrar inteligência de fato e há aqueles que acreditam não ser possível, focando seus esforços no desenvolvimento de programas que apenas “imitem” características inteligentes. De qualquer forma, há um certo consenso de que uma inteligência de verdade não é algo programável, não é uma simples questão de encontrar e descrever uma receita, uma sequência de instruções com toda a descrição do mundo, de como ele funciona e como as coisas se relacionam, para o computador e pronto, ele estará entendendo, pensando, raciocinando e conversando como e com os humanos. Um bom argumento demonstrando isso foi dado ainda no ano de 1980 pelo filósofo John Searle, conhecido como “O Quarto Chinês” [2].

O que se observa, entretanto, é o fato do fenômeno cheap football tops da inteligência se manifestar em seres vivos. A partir do estudo da vida, então, algumas novas conclusões têm sido tiradas pelos pesquisadores de IA. Uma das definições de vida mais exploradas ultimamente pela emergente área da “IA Enativa” [3], tem sido aquela dada pelos biólogos chilenos Maturana e Varela. Basicamente, um ser vivo seria uma organização capaz de manter sua identidade, isto é, se diferenciar do restante do mundo, enquanto funciona ativamente para se auto-constituir. Ou seja, o ser vivo possui um comportamento possibilitado pela sua constituição (seu corpo, seus órgãos), ao mesmo tempo que a sua constituição só é possível pelo seu comportamento. Essa seria a ideia geral da autopoiese, conceito criado pelos biólogos citados, e característica fundamental atribuída por eles à vida. De fato, isso pode ser observado em organismos unicelulares.

Mas como a autopoiese se relaciona com a inteligência? Em “Autopoiese e uma Biologia da Intencionalidade” [4], Varela argumenta como a partir dessa característica, surgem os mais altos níveis de cognição. Porém, afim de entender por que, em determinada abordagem, os bots em Quake 3 possivelmente evoluiriam para a paz mundial, pode-se supôr a seguinte simplificação: a inteligência nada mais seria do que a busca ativa do ser vivo em se manter viável (existindo, mantendo sua identidade) em um mundo no qual a sua constituição está constantemente sendo ameaçada, no qual, se ele não se reconstruir, ele se deteriora rapidamente e deixa de existir. Ao definir vida desse modo, percebe-se que qualquer ação de um ser vivo no mundo tem relação direta com a sua constituição. Ou seja, se algo é realizado no mundo, é porque essa realização será útil na manutenção do ser, da mesma forma que, se algo é evitado, é porque poderá ser prejudicial. Nesse ponto, pode-se dizer que o significado das coisas para o ser vivo surge porque as coisas, de fato, significam algo para seu corpo. Desse modo, o sentido dos objetos no mundo para um agente (aquele que age) só existe porque ele pode sentir (usar seus sentidos, tocar, usar, experimentar) um objeto e esse uso lhe é útil para sua própria existência.

[+] MAIS Yuri é professor do curso de Sistemas de Informação da FA7 e escreveu uma tese de doutorado sobre inteligência artifical.  Você pode acessá-la através do link http://www.lia.ufc.br/~yuri/

Ora, feitas essas observações, embora ainda superficiais por falta de espaço, deve agora ficar claro por que era de esperar a paz mundial por parte dos bots. Do modo como o jogo foi desenvolvido, um bot existe e nada no ambiente dificulta sua existência. Ele já é colocado pronto no mundo, não precisa se constituir e, uma vez no mundo, ele não se destrói. Logo, sequer haveria um motivo para ele fazer algo além de ficar parado. Entretanto, os bots fazem algo, não porque precisam, ou porque querem, mas porque receberam instruções para tal. São as regras colocadas pelo programador. Desse modo, pode-se argumentar que existe sim algo que dificulta sua existência: se ele não se defender ou atacar um bot inimigo, ele será morto pelo outro. Porém, dessa forma, quem entra em risco de desaparecer é a população de bots. Se todos se matarem, a população deixa de existir, ou fica existindo um sobrevivente que não terá o que fazer além de ficar parado “observando o ambiente”. Uma outra possibilidade é o algoritmo se organizar de tal forma que nenhum bot mais tente matar o outro, cumprindo também o objetivo de levá-los a não morrer. Nesse caso, é possível entender a população de robôs como um único ser vivo tentando se manter. Chegando nesse estágio, nada mais perturbaria a existência desse ser (população), e ele permaneceria inerte. Perceba que, de uma forma ou de outra, o resultado seria um jogo paralisado. Essa conclusão, claro, só se tira assumindo que seria utilizada qualquer técnica de IA capaz de aprendizado. Lógico que uma técnica sem a capacidade de modificação (aprender implica em modificar) ficaria sempre do mesmo jeito e, se no começo da simulação, os robôs saíam se matando, não haveria motivo algum para quatro anos depois eles estarem fazendo qualquer coisa diferente do que já faziam no primeiro dia. De fato, existem conceitos mais tradicionais que argumentam ser a inteligência a simples capacidade de calcular, de fazer lógica. Nesse ponto, qualquer programa de computador seria inteligente, mas não seria capaz de explicar o hipotético experimento.

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Screenshot de Quake III Arena, lançado para Dreamcast, PS2 e Xbox Box Live Arcade, iOS e PC (Linux, Mac e Windows) entre 1999 e 2010.

Certo, mas como fazer o experimento? Bom, dado que inteligência vem da vida, criou-se técnicas inspiradas na vida. Uma delas, por exemplo, é conhecida como Algoritmo Genético (AG) [5], que tenta simular o processo de evolução por meio de seleção natural, onde, dado um objetivo, obtém-se um programa capaz de realizá-lo. Isso se dá através da representação “genética” do programa, fazendo duplicação e cruzamento entre aqueles programas que mais próximo chegam de realizar o trabalho sugerido, enquanto novas características podem ser adicionadas por um processo de mutação. Essa técnica, entretanto, é apenas uma tentativa da reprodução de algo que se observa na natureza, uma aproximação, uma simulação. Não é vida de fato. E, como tal, os objetivos são dados por um ser humano, e não são intrínsecos aos programas. Dessa forma, os resultados obtidos tendem a refletir o objetivo dado que, se mal descrito, pode levar a resultados pobres. No caso dos bots, se o objetivo for apenas “sobreviver”, pode acontecer a hipótese cheap football shirts analisada. Uma tentativa de corrigir e levar a comportamentos mais importantes, por exemplo, ainda usando AGs, seria definir “viva o maior tempo possível e mate o maior número de inimigos”, ao invés de simplesmente “viva o maior tempo possível”. Toda essa descrição detalhada dos objetivos para o computador só é necessária porque, sem vida de fato, não se tem objetivos próprios de fato.

Mas, supondo que se chegue finalmente a uma técnica capaz de fazer os programas de computador serem vivos de fato – recriar vida, o limite da ciência em IA atualmente –, e mesmo assim os bots chegassem à paz, a solução deles serviria para à humanidade? A não ser que eles tivessem exatamente as mesmas características físicas humanas e o mundo deles fosse igual ao real, o que faria sentido para eles, poderia não fazer qualquer sentido para os humanos (segundo a ideia de sentido exposta neste texto) e, consequentemente, ou a humanidade sequer seria capaz de entender o que eles estavam fazendo, ou até entenderia, mas possivelmente faltariam elementos (literalmente, físicos) para efetuar a mesma solução.

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REFERÊNCIAS

1. http://www.huffingtonpost.co.uk/2013/07/01/quake-3-arena-world-peace_n_3529082.html

2. SEARLE, J. Minds, Brains and Programs, Behavioral and Brain Sciences 3 (3): 417–457, 1980.

3. FROESE, T.; ZIEMKE, T. Enactive artificial intelligence: Investigating the systemic organization of life and mind. Journal of Artificial Intelligence, v. 173, p. 466–500, 2009.

4. VARELA, F. J. Autopoiesis and a biology of cheap football kits intentionality. In: MCMULLIN, B. (Ed.). Autopoiesis and Perception, p. 4–14, 1992.

5. NORVIG, P.; RUSSEL, S. Inteligência Artificial. Campus, 2013.

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