Gustavo Augusto-Vieira
da Equipe Include[SI]
Jessé de Oliveira tem 27 anos, é mestre em Física e atualmente trabalha como professor da UFC. Dia desses, topamos por aí nas redes sociais e o convidei para um papo sobre The World of Leona, um jogo de plataforma que ele desenvolveu sozinho e que está disponível na loja virtual Google Play. Apesar da conversa rápida, pude conhecer melhor como foi a experiência dele no desenvolvimento do game.
Gustavo: Cara, quero falar sobre seu jogo, The World of Leona.
Jessé: Opa!
Gustavo: Como você aprendeu a desenvolver jogos? É seu primeiro?
Jessé: Aprendi o básico vendo tutoriais na internet… Em fóruns especializados. Mas, para aprofundar no conhecimento, desenvolvendo sistemas mais elaborados fui no método tentativa e erro. E sim, esse é o meu primeiro jogo. Na verdade, é o meu segundo. (risos). O primeiro é o Bom e Ótimo, um jogo de raciocínio e lógica que eu fiz em 4 dias… Esse eu já estava (e ainda estou) trabalhando há um ano e meio.
Gustavo: Você chegou a publicar o primeiro? Qual era o nome dele?
Jessé: Sim, publiquei. Bom e Ótimo era o nome dele. Mas acabei retirando do ar devido à inatividade. Na verdade, esse primeiro jogo foi mais como um teste, pra que eu pudesse entender como funcionava o processo de publicação de um jogo no Google Play. Quando eu o publiquei, The World of Leona já estava em estágio avançado de desenvolvimento. E fiz esse teste pra ver como fazer, e aprender como se faz.
Gustavo: E como surgiu a ideia de desenvolver um game? Você já gostava de jogar?
Jessé: Era um sonho de infância. Desde muito cedo a minha vida com videogames era contínua.
Gustavo: Sério? De criar algo?
Jessé: Sim. Eu jogava alguns jogos e tinha um pensamento do tipo “se esse jogo fosse assim seria melhor” e ficava imaginando coisas. Ideias de gameplay e de design. Eu sonhava em trabalhar nessa área. Mas como eu morava no interior do Ceará, achei que esse sonho era impossível.
Gustavo: Cara, você foi atrás de conhecimento na web. Onde estavam as maiores dificuldades?
Jessé: Na verdade, meu primeiro contato com o desenvolvimento de jogos foi no dia 26 de dezembro de 2014, quando comecei a ver tutoriais de pixel art, plataformas de desenvolvimento. Estava de férias e tinha bastante tempo pra me dedicar a essas coisas. Quando comecei, cometi um dos maiores erros dos desenvolvedores indies: começar por algo grande
Gustavo: Entendo.
Jessé: Queria fazer um jogo de RPG, cheio de sistemas e quests, coisa e tal.
Gustavo: Nossa.
Jessé: Mas, ainda bem que não fui muito longe. Vendo vídeos de outros desenvolvedores, vi que eu estava começando errado. Aí foi quando decidi começar o The World of Leona.
Gustavo: Então a ideia de “Leona” não estava totalmente fechada, correto?
Jessé: Não. Eu comecei a fazer mais pelo interesse em aprender. Aí as coisas começaram a surgir. E tudo que eu fazia ia dando certo. E as coisas começaram a crescer. O nome do jogo, por exemplo, foi uma das últimas coisas que criei durante o desenvolvimento. Eu cheguei a “abandonar” o projeto. E começar um outro jogo em 3D.
Gustavo: Entendo.
Jessé: Então voltei a cometer o mesmo erro. (risos). Cheguei a fazer a primeira cidade do jogo, o personagem… Mas perdi tudo com um vírus maluco que meu PC pegou. Sorte que eu tinha feito um backup do TWOL (nome carinho para The World of Leona)
Gustavo: Putz!
Jessé: Esse outro projeto foi pro espaço. Não tenho nem uma screenshot. Tudo está só na minha memória. Foi quando decidi finalizar o TWOL. Sem contar que eu dei uma pausa no jogo. Foram três meses para poder terminar o Mestrado. Então, nesse um ano e meio, tiveram vários hiatos no desenvolvimento.
Gustavo: E o que foi mais difícil? Vi que você aprendeu que não deve começar do fim…
Jessé: O gerenciamento do tempo, pois haviam épocas em que eu me dedicava de 3 a 6 horas por dia. Mas em outras épocas, eu passava vários dias, até semanas para “pegar” no jogo. A maior dificuldade mesmo é fazer o jogo sozinho.
Gustavo: Mas você já tinha conhecimento de programação?
Jessé: Sim. Minha formação me permitiu isso. Sou físico de partículas em simulações computacionais. Então, a programação tirei de letra. Só precisei aprender os comandos, pois as mecânicas eu criava na cabeça e já ia implementando tudo direto pois já entendia a lógica das coisas.
Gustavo: Temos uma discipina no curso de Sistemas de Informaçao da FA7 que se chama Estágio Supervisionado I, onde cada estudante é desafiado a criar cada um um game durante o semestre. Você, como um cara que passou pela experiência de criar não só um, mas dois jogos, o que tem a dizer para essa galera?
Jessé: Criar jogos não é tarefa fácil. Mas se você persistir, você vai conseguir. Vão surgir pessoas para criticar, lhe jogar pra baixo, dizer que seu produto é ruim, e coisas do tipo. Mas você não pode olhar as críticas negativas como uma pedra no caminho mas sim como um trampolim, para você usar, crescer e saltar sobre as dificuldades. Desenvolver um jogo sozinho é possível mas é sempre melhor desenvolver em equipe. Pois o que eu passei no desenvolvimento não recomendo a ninguém. E o mais importante: você pode não ser bom em tudo. Afinal, ninguém é. Procure descobrir aquilo em que é bom e tente alavancar as suas habilidades e crescer naquilo em que é bom. Assim, você consegue alcançar os objetivos de forma concisa e segura.
Gustavo: Que tecnologias usou?
Jessé: Para a parte artística eu usei o GIMP. Tudo feito em pixel art com animações frame-by-frame. Para desenvolver o jogo, eu usei o Gamemaker Studio, a versão professional. As musicas eu fiz com o Sonar e alguns VSTIs e os efeitos sonoros, usei o Audacity.
Gustavo: E qual o roteiro de “Leona”?
Jessé: Bem… desenvolver um roteiro elaborado iria me custar muito trabalho.. e muita energia. (Coisa que já não mais tanto após um ano). O roteiro é… ela precisa salvar a terra de vilões malignos que desejam subjugar e escravizar toda a humanidade. Bem clichê mesmo! Tanto que o roteiro só aparece na descrição do jogo no Google Play. Dentro do jogo não tem nenhuma referência a isso.
DICIONÁRIO
Se você ficou em dúvida com alguns termos aqui da conversa, não tem problema: a gente te dá umas dicas.
Gameplay: A combinação de características em um jogo que resumem a experiência de entrada do usuário. A soma das partes de um jogo: a sensação dos controles, os tipos de missões, a mecânica de combate, os diálogos…
Pixel art: a forma de arte criada em um computador usando pixels.
Screenshot: o registro em imagem de uma tela.
VSTi: Virtual Studio Technology (Tecnologia de Estúdio Virtual), ou simplesmente VST, é uma interface desenvolvida pela empresa Steinberg e lançada em 1996 que integra sintetizadores e efeitos de áudio com editores e dispositivos de gravação de som digitais. O VST utiliza processamento de sinal para simular o hardware tradicional de estúdio de gravação com software. A sigla VSTi é normalmente usada para diferenciar um plugin de efeito de um plugin de instrumento virtual, este tendo a letra “i” adicionada ao fim da sigla.
MAIS
Jessé escreveu um artigo contando um pouco sobre sua experiência. O link é http://producaodejogos.com/desenvolver-um-jogo-sozinho/